Sobre corpos vestidos de saber e silêncios que significam

“Essa imagem que eu estou vendo, me explica como é andar com ela.” Em cena, Grace Passô, dramaturga e atriz de Preto, aborda a imagem, a verdade e o enegrecimento por meio da oralidade, do corpo e da performance.

“Não é só uma imagem que eu imagino. É uma verdade. Eu vejo, eu escuto, é uma verdade. Surge uma verdade, vem uma verdade.” A arte é uma ação da realidade e acompanha o que a sociedade vive. É o que a sociedade vive e, portanto, se transforma com e a partir dela. Na atividade formativa ocorrida na manhã de 11 de setembro sobre oralitura, a dramaturga reforça essa reconfiguração constante do teatro, que se relaciona com o público a partir de seu perfil mutante e de seu repertório único e individual. O público transforma a relação com a cena.

“O fogo modifica a forma do que vai nascer”, diz Grace no encontro na Área de Convivência do Sesc Santos. E o conseguinte silêncio de quem observa o que se forma depois desse incêndio é transformador. Ela encerra sua fala, que conversa com Preto, sublinhando o fogo e sua ação transfiguradora.

Imagem, performance. Verdade, fundação. Fogo, mudança. Como a própria criadora do termo e pesquisadora da manifestação, Leda Maria Martins, diz a oralitura é “o pulso da batida rítmica do coração cósmico”. “O ritmo cria uma gramática que reverbera pelo cosmos” que o corpo, vozeado, interpreta, inscreve, traduz os saberes. Os corpos são vestidos e revestidos de saberes. São lugares de trânsito, de transcrição, de memória.

E o silêncio, o indizível? Leda continua “você não ouve a voz do outro”. Mas os silêncios, assim como as manifestações corporais, significam. Até quando não se sabe o que dizer ou, ainda, quando não se é conveniente dizer, como complementa Marcela Salinas, dramaturga e atriz de Estado Vegetal, em que interpreta pontos de vista de objetos inanimados.

“Busco ouvir esse corpo”, branda Grace em sua peça. Ouça sua imagem. Como é andar com ela?

 

Danilo Cava, editor web do Sesc