O Mirada 2018 chegou ao fim, mas deixou encantamentos e inquietações que vão seguir nos acompanhando. Juntamos alguns deles aqui para guardar na memória:
- Os encontros - de corpos, sotaques, histórias e culturas, dentro e fora dos palcos. Um deles resultou na “Sansakofa”, uma brincadeira com os nomes Sansacroma e Sankofa: dois grupos de artistas negros, um do Brasil e outro da Colômbia, que fizeram uma jam de dança durante o festival. Uma parceria que promete render ainda mais frutos no futuro.
- A forma como questões históricas e sociais comuns aos países ibero-americanos (violência, ditadura) foram abordadas a partir de olhares diferentes e, infelizmente, ainda se mostram atuais, como o fantasma da ditadura em Cine Splendid.
- A habilidade de tirar o espectador do seu lugar e fazê-lo enxergar o outro, e o mundo pelo lugar do outro. É como fazer uma longa viagem e voltar com a bagagem cheia de novos olhares, como em Souvenir Asiático:
- O encontro entre ficção e realidade. A partir de relatos biográficos, registros históricos, auto-ficção e metalinguagem, diversos espetáculos pareceram esterçar ainda mais a linha - já tênue - entre o que é real e o que é inventado. Ao sair de algumas peças, como na El Bramido de Dusseldorf, foi possível ouvir o burburinho: “será que era tudo mentira?”
Uma dúvida preciosa para se ter, em tempos de fake news.
- A longa duração dos espetáculos, como o português Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas (6 horas) e o brasileiro Odisseia (quase 5 horas). Na era da hiperconectividade e textos curtos, foi um exercício importante dedicar-se por tanto tempo a uma peça, com o celular desligado.
- Os debates que aqueceram as atividades formativas, abordando assuntos como violência, memória, autoficção, representação feminina e lugar de fala, abrindo espaço para diferentes vozes se manifestarem, como na mesa Oralitude: poéticas da oralidade.
“É bem emocionante ver mulheres - principalmente mulheres negras, falando com tanta firmeza e fazendo um trabalho tão relevante e com tanta possibilidade de expansão e transformação da sociedade” - relatou atriz Priscila Ribeiro, em entrevista aos jovens do Instituto Querô (saiba mais sobre eles aqui. ), que fizeram a cobertura em vídeo das atividades formativas:
- Os espetáculos que aconteceram do lado de fora dos teatros, por toda a Baixada Santista. Além de terem conquistado a população - muitas vezes desavisada - nas ruas e praças, ocuparam e se deixaram ocupar pelos elementos da cidade e da natureza, como nesta apresentação do Circo de Soleinildo, em Peruíbe.
- O uso do humor para abordar temas sérios e urgentes, facilitando assim a reflexão sobre eles e sobre nosso papel nos problemas do mundo de hoje, como nas gargalhadas de quem se reconheceu parte de uma sociedade que alimenta preconceitos e estigmas, abordados em A invenção do Nordeste.
- Conhecer as pessoas que, mesmo sem terem ingresso, arriscam a sorte nas “filas da esperança” para tentar assistir aos espetáculos. Um deles, que acabou virando personagem de um perfil aqui no Ponto Digital, contou que o teatro abriu sua “cabeça de camarão” e também seu coração.
Essas são as impressões da equipe de cobertura do Ponto Digital Mirada 2018.
E as suas? O que você irá levar na memória?