"Em nome de Deus, da pátria e contra a divisão da família tradicional. Militares protegem o país da desordem."
A citação foi tirada do espetáculo Cine Splendid, da dramaturga Sara Pinheiro, com direção de Pablo Lamar e Ricardo Alves Jr, numa co-produção Brasil-Paraguai. Um assassinato ocorrido num cinema de rua em Assunção é o pano de fundo da história, que se passa durante o regime ditatorial de Alfredo Stroessner no Paraguai.
A peça faz uma conexão entre passado e presente numa tentativa de mostrar quais os alicerces sobre os quais os regimes ditatoriais se apoiam, induzindo as pessoas ao erro e angariando seu apoio.
Pelas ondas do rádio, meio de comunicação de maior alcance na época, a propaganda do governo apresentava um país em progresso e ascensão. Personagens comuns tornavam-se informantes do governo (os pyrangues, ou delatores, em tradução livre do guarani) e o clima de conspiração e desconfiança era maquiado pelo governo, apresentando uma falsa sensação de paz.
Durante o espetáculo, os personagens vão ao cinema para assistir a um filme de terror sem perceberem o horror que os assombrava na vida real. "Essas pessoas vão assistir ficções de terror, como se a realidade não fosse suficientemente aterrorizante", comenta o diretor.
Segundo ele, é hora de discutir essas feridas da ditadura abertamente para que não voltem a acontecer. "No Paraguai, hoje em dia, o presidente eleito é filho do secretário particular do Stroessner. Ele se elegeu, inclusive, falando bem do Stroessner. Isso acende um alarme para voltarmos a falar sobre o que acontecia na ditadura. Se é que alguma vez foi falado".
Ronaldo Domingues, editor web do Sesc