Lembro da primeira vez em que tive que lidar com a questão do suicídio. Era adolescente (uns 15 anos) quando recebi a notícia da morte de uma amiga bem próxima da minha irmã. Foi desconcertante a sensação de não saber o que falar ou como agir diante de uma atitude que parecia ir contra qualquer lógica.
Recentemente, vi esse assunto ser abordado em obras como a série 13 Reasons Why, sobre uma jovem vítima de bullying, e na peça Dramas Neo-Costumbristas de Carácter Fatal: Nos Hemos Olvidado de Todo, que a companhia colombiana La Maldita Vanidad apresentou no Mirada.
“No me voy a casar”, diz o personagem Ivan em um quarto de hotel barato diante de uma noiva em desespero no dia do casamento, nos primeiros minutos do espetáculo colombiano. O personagem está angustiado. A cena é seguida pela versão instrumental de Creep, do grupo Radiohead. A música, que fala das angústias de um homem que se sente um lixo na sociedade, é um hino da categoria “sons para ouvir quando se está deprê” e se encaixa muito bem na história.
O que se segue é um mergulho na mente de um homem antes do suicídio. As cobranças da sociedade, o sentimento de culpa, de estar desajustado. Tudo isso é explorado em um enredo em que passado e presente se misturam.
Em uma das cenas, Ivan fica de cabeça para baixo contra a parede e sua noiva tenta acompanhá-lo, sem sucesso, no movimento. “Li que isso faz mal para o corpo humano”, ela diz. Mas Ivan parece não se importar. Como se sua realidade fosse essa mesmo, invertida, e ele nunca fosse se enquadrar naquilo que os outros esperam.
Saio do espetáculo pensando em como a arte é importante para discutirmos tabus. Acredito que o silêncio é sempre mais nocivo que o diálogo aberto. Precisamos falar mais sobre o que nos incomoda.
Junior Pacheco, editor web do Sesc